O mês de junho é marcado pelo Dia Mundial de Conscientização sobre a Violência contra a Pessoa Idosa (15) e o Centro de Referência Estadual de atenção à Saúde do Idoso (CRESASI) preparou uma programação especial dedicada ao tema. A iniciativa visa fomentar discussões e ampliar a visibilidade de um problema que afeta significativamente a saúde e o bem-estar da população idosa.
A primeira palestra do Ciclo de Sessões Científicas do Junho Violeta ocorreu na manhã desta quarta-feira (28), ministrada pela diretora da Unidade e terapeuta ocupacional, Maria Helena Pataro. A sessão abordou os diferentes tipos de violência que pessoas idosas podem estar suscetíveis, como física, psicológica, negligência e até autoprovocada, e também destacou o papel dos profissionais de saúde na identificação e enfrentamento da violência contra a pessoa idosa.
“É fundamental não relativizar os sinais de abuso. Um único ato já é violência: Um tapa, um grito! Não importa se aconteceu apenas uma vez, precisa ser reconhecido, notificado e denunciado”, afirmou a gestora. Para ela, além do que pode vir a ser dito pelo paciente, é necessário prestar atenção aos sinais que ele pode demonstrar. “Temos que observar como essa família chega, como essa família sai, como esse idoso olha para essa família. Porque por vezes ele não consegue dizer que está sofrendo violência. Mas corporalmente, ele consegue mostrar um medo, uma angústia”, acrescentou.
Aumento de denúncias
A violência contra a pessoa idosa no Brasil ainda é subnotificada, mas dados recentes apontam um aumento no número de ocorrências ao longo dos anos. Em 2023, foram registrados 28.704 mil casos de violência interpessoal contra idosos no país, de acordo com dados divulgados pelo Atlas da Violência 2025.
Na Bahia, entre janeiro e maio deste ano, foram registradas 1.425 denúncias, sendo a maioria relacionadas à Violência Patrimonial, seguidas por denúncias de maus-tratos. Os números de ocorrências foram divulgados pela Delegacia Especial de Atendimento ao Idoso (DEATI) e incluem tanto a violência autoprovocada quanto a provocada por terceiros.
Durante a sessão científica do Creasi, Helena Pataro chamou atenção para a violência sexual contra idosos, um tema que ainda é marcado por tabu e invisibilidade, até mesmo dentro dos serviços de saúde. “A violência sexual é muitas vezes ignorada, mas ela existe e pode ocorrer inclusive em instituições. Precisamos romper esse silêncio.”
Em Salvador, os dados revelam um recorte racial significativo: 62,3% das vítimas identificadas como pretas ou pardas. Do total de notificações, 61% foram feitas por homens, enquanto 39% por mulheres. Para Helena Pataro, o fato merece atenção, tendo em vista que ao longo da vida, as mulheres são as maiores vítimas. “A análise das notificações em Salvador sinaliza uma naturalização do fenômeno, nas mulheres idosas”, salienta. Os números também indicam que a violência contra essa população ocorre de forma heterogênea, o tratamento homogêneo da população idosa desconsidera as desigualdades que cada pessoa pode estar inserida.
Programação de junho no CREASI
Ao longo do mês de junho, o Creasi irá promover rodas de conversa, sessões científicas e campanhas de sensibilização voltadas para profissionais, familiares e usuários da Unidade, com foco na prevenção, no cuidado compartilhado e na notificação dos casos de violência.
A ação integra um esforço mais amplo da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (SESAB) para fortalecer a rede de proteção à pessoa idosa e ampliar o diálogo sobre práticas de cuidado mais humanas, inclusivas e equitativas.
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