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Será que estamos em um relacionamento tóxico?

Se pareceu violento para ti ??? uma palavra, um olhar ??? não duvide do que sentiu. Pode ser um relacionamento tóxico. Olhar para nós, saber o que machuca e estabelecer os próprios limites é primordial

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  FOTOGRAFIA: Mitch Lensink

Toda relação é complexa e exige delicadeza e profundidade para analisá-la. Então farei alguns apontamentos no sentido de abrir a discussão, mas nunca de fechar um “diagnóstico”: conceito comumente falido e improdutivo.

Vale lembrar que na sociedade machista as mulheres são violentadas e submetidas, portanto, estão mais sucetíveis a um relacionamento tóxico. É impressionante o quanto nós mulheres nos culpamos por tudo, inclusive pela violência alheia. Desse modo, despir-se da culpa é fundamental pra avançarmos na construção de uma sociedade mais harmoniosa.

Violência não tem justificativa, ponto. Assim, não devemos pestanejar sobre isso. Marido, namorado, chefe, Estado, país: ninguém está autorizado a agir de forma violenta. Se você vive isso, procure ajuda imediatamente e pule fora desse relacionamento tóxico.

Mas nem sempre a violência é fácil de ser identificada: quando ela vem disfarçada de cuidado, fica mais difícil argumentar. E, infelizmente, isso está mais na moda do que nunca no Brasil.

Consequentemente, tendemos a olhar para nós mesmos duvidando de nossas percepções, sensações e intuições. Isso é próprio do modo de educação para o mundo-capital.

Essa armadilha é a pior: desconectar a gente do mundo e substituir várias habilidades perceptivas por narrativas. E os saberes psi são muito responsáveis por isso. Desde sempre eles têm como jargão a “difamação” da autenticidade (isso tende a ser pior nos países colonizados, onde a normativa é não ser “si mesmo”).

No entanto, para as mulheres, esse é o modo de se relacionar com o mundo que se vende, em que suas intuições e percepções são desautorizadas. Muitos materiais já foram produzidos sobre esse tema e, se você está na dúvida, vale a pesquisa.

De modo geral, podemos indicar que nosso projeto educacional e familiar aposta em nos acostumarmos a migalhas desde a infância. Claro, no fundo sabemos que migalha não sustenta. Mas, para isso funcionar, tendemos a acreditar que “estamos querendo demais” e, duvidando de nós mesmos, vamos abrindo espaços para vários tipos de vampirismo. Essa armadilha costuma ser a fundamental.

Em suma, ela é a base do mundo-capital. Por exemplo, sem essa armadilha as mulheres não sustentariam o capitalismo em suas muitas jornadas não remuneradas de trabalhos domésticos e carga mental. Portanto, vale o lembrete: não é necessário argumentar para caracterizar algo tóxico. Se pareceu violento para ti – uma palavra, um olhar, um silêncio – não duvide de si mesmo.

Desse modo, podemos identificar a toxicidade de uma relação a partir do básico. O outro gostar de você, te cuidar, te respeitar, te pagar em dia… Isso não é argumento de permanência numa relação, é o mínimo para que uma relação aconteça.

Por tudo isso, desconstruir essa idéia de egoísmo como algo ruim, é essencial! Nunca é egoísmo olharmos para nós mesmos, sabermos o que nos machuca e estabelecer nossos próprios limites. Nunca é egoísmo priorizarmos nos conhecermos melhor e mais profundamente.

E isso serve para romances, família, trabalho, amigos, situações…

 

Myrna Coelho é psicóloga clínica, professora e doutora pela USP. Decidiu recomeçar a vida do outro lado do oceano, onde segue atendendo seus pacientes e dando supervisão online. Por aqui, semanalmente, reflete sobre como podemos viver com mais liberdade de ser. Mande sua mensagem para: [email protected].

    Myrna Coelho

 

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