Facebook
  RSS
  Whatsapp

EM TERRA DE CEGOS S?? N??O V?? QUEM N??O QUER

 

Feliz natal a todos. Logo de manhã, enquanto dava umas carreirinhas para agitar o sangue e espantar o ócio da idade, a tal da ociosidade, procurava também pelo espírito de Natal. Claro que não estou falando dos fantasmas que aparecem na capital potiguar, esses que se materializam em certas épocas e depois somem para retornar propiciamente quatro anos depois. Falo daquele clima de solidariedade e sensibilidade coletiva que permeia nossos sentimentos nesta época.

Quem procura acha. De repente, ei-lo: sujo, esfarrapado, mal-cheiroso, a perambular sem destino certo. De súbito, notei que vislumbrava algo no chão. Cego como aqueles de quem se lhe tiraram a visão, tapado, cujas lentes para enxergar o mundo minimamente lhe foram roubadas. O que mesmo ele enxerga? Não sei. Só sei que sua atenção foi tomada naquele momento por uma pata-pata. Uma o que? Isso mesmo. Uma pata-pata.

Cheia de terra molhada porque havia chovido no início da manhã. Arrancou-a do chão com uma mão que com o mesmo chão se confundia. Bateu-a contra o meio-fio e levou-a à cabeça tão sofregamente como levaria à boca algo que lhe fosse comestível. Talvez a comida lhe fosse mais facilmente digerida pois os intestinos deviam estar menos embaraçados ou entrelaçados do que lhe estavam os cabelos. Não deviam ter visto pente algum havia séculos.

Passei um pouco ao largo, embora tenha observado estes detalhes, e fui-me embora. Talvez não fosse esse o espírito de natal que eu quisera encontrar. Desprovido de toda regra e de todo compromisso social, talvez livre, talvez trancafiado em sua própria liberdade. Talvez eu procure aquele que só aparece mesmo no natal, cheio de solidariedade e boa vontade, e depois some tão logo começa janeiro.

Não esqueçam de colocar uma moeda de um real na minha caixinha e natal. Tem que ser de um real para não quebrar a corrente. A corrente que atrai o Papai Noel. Não se atreva a quebrar a corrente pois aquele que quebra a corrente poderá ser subitamente acometido pela liberdade. Descobre quão bom é estar livre da opressão e ditadura de Noel.

 No mais é isso. No mais, como diz o Caetano, que deixem os portugais morrerem à mingua, a pátria é minha língua e eu não tenho pátria, tenho mater, quero frater.

 

Domingos Silva

Mais de Política