Nas entrelinhas da diplomacia, muita coisa acontece longe dos holofotes. A recente viagem de Lula à China, ao lado de outros líderes latino-americanos, é um desses movimentos que talvez não pareça imediato para o cidadão comum, mas que tem o potencial de transformar profundamente nossa posição no mundo — inclusive aqui, no nosso cotidiano, em lugares como Abrantes, em Camaçari, ou qualquer cidade que dependa do comércio, da indústria e do investimento estrangeiro.
O Brasil vem, há tempos, tentando encontrar seu lugar no tabuleiro global. Por muitos anos, ficamos com os olhos voltados apenas para o Ocidente — Estados Unidos, Europa. Mas o mundo mudou. A China se consolidou como uma superpotência econômica e, mais do que isso, como um parceiro comercial estratégico. Já é o maior comprador dos nossos produtos e, agora, quer mais: quer investir, desenvolver, compartilhar tecnologia.
Lula, junto com os presidentes da Colômbia e do Chile, foi a Pequim mostrar que a América Latina não quer ficar à margem. Eles não foram como figurantes, foram como protagonistas de uma nova fase diplomática, que busca independência, soberania e parceria equilibrada. E isso me parece inteligente.
Claro que há riscos. Ninguém se aproxima de uma potência global sem pensar nos impactos: como ficam nossos pequenos produtores frente aos produtos chineses? Como garantir que os investimentos tragam emprego qualificado e não apenas exploração de recursos? São questões que precisam ser feitas — e fiscalizadas de perto.
Mas prefiro olhar com esperança. O Brasil tem potencial para crescer. E se souber negociar bem, pode usar essa aproximação para atrair tecnologia limpa, fortalecer a produção sustentável e reindustrializar setores esquecidos. Já pensou em parques tecnológicos financiados por essa parceria? Ou em soluções de mobilidade e energia renovável chegando também ao Nordeste?
Esse é um daqueles momentos em que a diplomacia não é apenas distante: ela nos toca. Talvez, num futuro próximo, a influência dessa viagem esteja nas placas solares de nossas casas, nos empregos que surgem em polos industriais renovados, ou mesmo no acesso à tecnologia mais barata.
A nova rota comercial do Brasil com a China é, sim, uma questão de economia. Mas, acima de tudo, é uma questão de visão. E tomara que seja uma visão de futuro — um futuro com menos dependência, mais equilíbrio, e mais oportunidades para o povo brasileiro.
Vânia Vìgo é jornalista, escritora e pós graduada em jornalismo político.
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