Nunca tivemos tanto acesso à informação como agora. Em segundos, um toque no celular nos leva de um vídeo sobre física quântica a uma fofoca de celebridade. O mundo cabe na palma da mão. Mas será que nossa atenção ainda cabe nesse mundo?
A tecnologia nos oferece uma ilusão de profundidade — mas o que mais temos feito é deslizar. Rolamos feeds, clicamos em manchetes, assistimos vídeos de 15 segundos e formamos opiniões em menos tempo ainda. O problema não é a internet. É o ritmo. O excesso. E principalmente: a falta de pausa.
Pensar exige tempo. Reagir exige quase nada. E é isso que as plataformas querem: reação. Emoções rápidas, debates rasos, vício em estímulo. Estamos nos tornando especialistas em tudo e em nada. Opinar virou mais importante do que compreender.
Antes, o tédio era um convite à imaginação. Hoje, ele é imediatamente combatido com notificações. Mas sem tédio, sem tempo, sem silêncio — como o pensamento crítico pode crescer?
E os dados não mentem: segundo o relatório Digital 2024 (We Are Social & Meltwater), os brasileiros passam, em média, mais de 9 horas por dia online, sendo cerca de 3 horas e 46 minutos em redes sociais. E ainda: 76% dos usuários relatam sentir ansiedade ao ficar longe do celular, segundo o Global Web Index. O vício em estímulo constante está moldando nosso cérebro.
A filósofa sul-coreana Byung-Chul Han, em Sociedade do Cansaço, já alertava: “O tédio e o silêncio, antes fontes de criação e reflexão, tornaram-se incômodos a serem eliminados.” E sem silêncio, sem pausa — o pensamento murcha.
A pergunta não é se a tecnologia nos faz mal. Ela é ferramenta. A pergunta é: quem está no controle?
Desacelerar não é rejeitar o mundo moderno — é escolher onde colocar a atenção. E onde vai sua atenção, vai sua vida.
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